terça-feira, 29 de setembro de 2015

Dores de primavera




Quando tudo se perdeu,foi que eu andava
Despelando minhas flores no caminho,
Entoando pelas dores que eu amava,
No escuro a passos largos, um choradinho.


E do pranto cantado de mansinho,
A estupidez de alguém que só sonhava,
Quando tudo se perdeu foi que eu andava,
Despetalando minhas flores no caminho.

E dos rastros a morbidez me alcançava
Da primavera eu só vivi o passarinho,
Porque das flores o perfume me açoitava,
Despetalei-as e segui então sozinho.
Quando tudo se perdeu, foi que eu andava...

Rejane Alves

domingo, 27 de setembro de 2015

Menino Portela










Na amplidão de cada passo se revela

Todos os medos e venturas de um menino 

Que ele viveu,sofreu,perdeu seu tino 

E representa em traços firmes de aquarela. 



Dos olhos grandes, e perna fina a donzela. 

Que vai surgindo em uma porta do destino, 

E se embaralha dos cabelos ao salto fino, 

Ali deitada, bem no muro da favela. 



E passam horas, luas chegam, ela esfarela, 

Mistura as cores no asfalto coralino, 

Dissolve a rua no solário vespertino. 

Ninguém mais olha, jaz seu fim, não se protela. 



E das lembranças o menino se pincela, 

Guardando o risco que perdura genuíno, 

Que te criou humano cristalino, 

Na tinta crua nos tijolos da Portela. 



Rejane Alves




quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A chuva a lua e a rosa


A ilha






A brisa me cega.
A salina tempera meus desejos de vida,
Enquanto abre caminho de sangue em minhas narinas.
Cortando minhas veias,
Molhando a areia e minha retina.

O medo da entrega,
Flutuar nas ondas me faz recuar.
Recusas meu corpo. Oh mar!
Devolve-me por desventura à baia,
Adentro a aventura de uma ilha,
Mata feroz, vento voraz me faz penar.

Fustiga minha pele, mato arredio.
Inexplorado verde de um olhar,
Piso em seus braços num ato bravio,
De amor fecho os olhos,
Para dor eu sorrio.

Sou rio em fúria que nasce ao amar.

                                                               Rejane Alves

Verso dormido



Ontem eu tinha um verso,
E meu universo enclausurou-se ao meio dia,
Na água corrente ao meio da pia,
Incerto do tempo,do tom,da melodia...


Ontem eu tinha um verso,
Imerso na fadiga de minha euforia.

Rejane Alves
Rejane Alves